sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

FABRICANTE DE CORPOS - PARTE 2 - RIO DE SANGUE!

RIO DE JANEIRO: Como já definiram, um purgatório da beleza e do caos. Cristian não gosta desta cidade. As lembranças não são nada agradáveis.

Por aqui ele deixou muitos desafetos, alguns tentariam matá-lo de qualquer jeito, outros fugiriam imediatamente...uma coisa é certa: O cheiro de morte costuma ficar mais intenso e o sol queima com mais crueldade quando o FABRICANTE DE CORPOS está na cidade.



RIO DE SANGUE


A noite já vai perdendo sua força enquanto os pensamentos corroem sua cabeça enquanto ele caminha pelo Baixo Sul a procura do endereço no papel.

Ele para e olha para a fachada:
-          Um bordel de luxo? Merda, Gabriel me mandou procurar alguém numa bosta de puteiro.

Cristian penetra no inferninho. Olhos libidinosos de prostitutas cansadas em final de noite caem sobre ele na esperança de conseguirem um último cliente. Uma ruiva seminua sorri para ele, porém a cara fechada do “estranho” a impede de falar alguma coisa.

Cristian atravessa o lúgubre salão e chega ao bar improvisado.

-          Estou procurando alguém?
-          Mulher, homem, traveco, boneca ou trans?
-          O nome é Thot!
-          Hã! O velho maluco. Olha cara se ele aprontou alguma...
-          Diz o quarto e fica na tua.
-          Dezoito! E diz pra ele me pagar a última ok! Esse velho é um picareta.

Cristian sobe as escadas carcomidas pelo tempo e para na frente de uma porta verde e corroída pelos cupins. No interior do quarto, barulhos e vozes denunciam o que os ocupantes então fazendo.

O soco vem rápido e preciso. A porta podre se escangalha ao meio. O Fabricante saca sua arma negra!

-          Socorro! Não me mate!

A mulher corre, elas já estão acostumada a sobreviver aos imprevistos. O velho veste-se rapidamente. A cena ridícula faz Cristian sorrir.

-          Quem quer que você seja, pagará caro por esta afronta, só não o ataquei porque odeio lutar sem roupas, e porque minhas poções então na minha capa. Eu sou Toth, o Aegir, último dos magos da dinastia Atlante.
-          Tuas besteiras só não são piores que essa sua capa vermelha. Gabriel deve estar brincando comigo.
-          Gabriel? Quem te mandou foi o Gabriel?
-          Exato!
-          Deixe-me colocar os óculos, peraí. Você,  a morte impregna tua alma! Você é um agente da grande Ceifadora...
-          Óculos mágicos?
-          Não, miopia mesmo.
-          Gabriel falou que você me ajudaria a encontra um homem. MOLOCH.

Ao ouvir o nome, o velho mago sente um arrepio atravessar sua alma , porém, antes que ele possa responder, dois leões de chácara entram no quarto a procura de Cristian.

-          Quem foi o palhaço que assustou nossa funcionária?
-          Fui eu!

O movimento é tão rápido que Thot nem vê a perna de Cristian atingir o gigante careca. A arma surge do nada nas mãos dele. Um pedaço negro da morte cospe seu fogo maldito na perna do segundo homem. Cinco segundos! É o tempo em que tudo ocorre. O velho mago treme, a sua frente ele reconhece o servo do ente que mais maculou o planeta.

- Vamos sair daqui!

MORRO DO ALEMÃO:

Um menino corre pelas vielas apertadas do morro com toda a velocidade das suas pernas franzinas. Na linguagem do morro ele é conhecido como avião.

Ele tem uma mensagem de vida e morte para entregar. Estas costumam ser as mais bem pagas.
Ele chega até a casa-fortaleza do chefe do tráfico no morro – o RUSSO.

-          Seu Russo. Mãe Stela mandou um recado pro senhor.

O homenzarrão de cabelos vermelhos está sentado. Há seis anos ele vem controlando um dos maiores pontos de tráfico do Rio de Janeiro. Neste tempo, sua proteção estava garantida. As entidades haviam fechado seu caminho, seu corpo...mas o súbito frio do medo chega a ele juntamente com o menino e o faz temer pelo seu destino.

-          Fala logo “de menor”!
-          Ela disse isso – o menino pega o bilhete e começa a ler com a dificuldade própria de um semi-analfabeto. – “Filho, o Diabo está atrás de você. Nem as correntes de Aruanda podem te ajudar. Exu veio avisar, tua caveira já está na encruzilhada. Fuja daqui o mais rápido possível e lute pela sua vida.

O menino acaba de ler e Russo pende a cabeça para trás. Fugir, se entregar, morrer. Essas palavras nunca fizeram parte do seu repertório.
-          Toma menino, cem paus e vaza; Macaco, chama a negada toda, vamo pra guerra.


Petrópolis: um local privilegiado. A mansão fica numa das áreas mais nobres da Cidade. Seu proprietário é conhecido como Eurico Paes de Carvalho Couto. Dono de uma grande rede de comunicação e de um milionário time de futebol, além de jornais e revistas. Um homem poderoso.

-          Olá Moloch, há quanto tempo!
-          O suficiente.
-          O que você quer?
-          No momento, sua casa Eurico. Saia daqui, em breve te contatarei.
-          Você ainda está me devendo algo. O senador que eu pedi para você matar...
-          Tudo ao seu tempo. Nada está esquecido. Em breve tudo nesta cidade será meu. E você pode estar ao meu lado se não me contrariar com cobranças vazias. Entendeu?
-          Sim – Eurico pega sua maleta de mão e sai. Ele sabe que não deve contrariar esse homem, eles tem laços antigos de crimes que os une. Muita da sua riqueza se deve a ele.

Mas algo o impacienta – Moloch está diferente, mais arrogante do que parecia possível. Eurico teme não ser mais útil para ele, sabe o que aconteceria se isto se concretizasse, pode ser a hora de fazer novos aliados.

No interior da casa. Moloch prepara um ritual maldito.

-          Almas perdidas nas trevas, eu as conclamo para o meu julgo. Atravessem a barreira astral, vistam-se de carne putrefata. O sangue brindará nossa aliança. Que os dezesseis espíritos da falange de Anaz se submetam a mim!
Pólvora é queimada e jarros de sangue são derramados pelo chão. Apenas os olhos macabros de Moloch brilham na escuridão absoluta.
Então um leve ruído é ouvido, um roçar de língua sobre água, como o som de gatos lambendo o leite...  O som se intensifica, fica grotesco, sons abissais.
-          Eles vieram! Acendam a LUZ.
As luzes se acendem e a cena dantesca se descortina. dezesseis criaturas deformadas, nas mais horrendas transfigurações arrastam-se pelo chão sorvendo o sangue derramado numa volúpia doentia.
A uma ordem de Moloch elas cessam e ficam imóveis esperando um novo comando.
-          Bem, acho que temos alguns turistas para visitar o Rio de Janeiro.

Copacabana: Um prédio de luxo na beira da praia – A cobertura pertence ao homem conhecido como Thot, o Aegir.

-          Fica a vontade cara, toma um whisky.
-          Que tipo de contravenção você tá metido pra ter um apartamento desses?
-          To limpo! Eu sou vidente cara, as madames me pagam os olhos da cara por um trabalho. Não é nada muito digno, mas paga bem pra caralho.
-          Olha, me dá o nome do cara que o Gabriel quer apagar e a ficha completa e eu vou embora falou!
-          Calma, o lance é complicado, você não sabe onde tá se metendo. O Gabriel é assim, gosta de sacanear com os novatos.  Minha esfera vai mostrar onde as energias profanas estão concentradas... Vamos lá... Merda, Preciso de um trago! 
-          Deixa a palhaçada de lado. Eu vou embora...
-          PERAÊ! Pelo olho de Mãe Dinah. Lá está! Morro do Alemão! Algo muito barra pesada tá pra acontecer por lá.
-          Vamos nessa!

MORRO DO ALEMÃO:

Os soldados do tráfico estão nervosos. Eles são supersticiosos. E temem o que vão enfrentar. Escondidos nas mutuas, buracos, telhados, recantos, eles formam uma linha impenetrável ao redor da fortaleza do Russo. Nenhum ser humano poderia entrar sem ser visto. Porém.

-          O que é aquilo?
-          Parece um aleijado, olha outro...
-          Vamo mandar fogo!
-          Pode CRAAARARRGHHHH
A garganta do pobre coitado é trespassada por garras macabras. Surgidos do nada os seres monstruosos avançam matando e deleitando-se com o sangue abundante para consumir.
Dentro da casa, Russo pressente o desespero que se aproxima. Súbito, a porta da frente, reforçada em aço é arrombada sem esforço e o homem conhecido como Moloch penetra no ambiente empestando-o com o aroma da morte.

-           Olá Russo! Ora de ser demitido.
 Moloch levanta Russo sem nenhuma dificuldade, ele prepara-se para quebrar o pescoço do traficante.

Então, o som de uma arma sendo destravada o faz parar e uma voz forte é ouvida.

- Solta o vagabundo bem devagar
Continua... 

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